Uma cultura pela prosperidade no campo
BIOMINERALIZAÇÃO
O caminho próspero para a agricultura familiar está em valorizar sua cultura, saberes e diferenciar-se do agronegócio pela maior qualidade de seus produtos. Levar em conta o alto valor nutricional que um alimento diferenciado deve ter para ser apresentado como atrativo de comercialização, com seu sabor, aroma e forma cuidadosamente preservados. A importância também de garantir variedades de sementes e produtos, valorizando as questões culturais e locais da geografia e ecologia do espaço onde vive o próprio agricultor e sua família, numa relação de ética com os consumidores e o ambiente.
São as vantagens da qualidade superando as da quantidade
Essa é a principal conquista que a técnica da Biomineralização tem proporcionado aos cerca de 800 agricultores gaúchos que há mais de três anos aplicam, pesquisam e desenvolvem diferentes tecnologias do uso das farinhas de rocha e dos biofertilizantes, a base, por exemplo, de basalto e granito, em suas propriedades.
Tudo começou aqui no Estado na década de 80, com trabalhos de pesquisadores como José Lutzenberger e Sebastião Pinheiro. Era uma resposta ao modelo convencional de agricultura, baseado no uso de agroquímicos, que empobrecem o solo e trazem prejuízos à saúde da planta e da população.
De acordo com Jaime Carvalho, técnico agropecuário da empresa Biobacter, que coordena projetos com pequenos agricultores assentados de Reforma Agrária e comunidades quilombolas, a biomineralização é capaz de recuperar solos degradados, produzir plantas sadias e aumentar a produtividade. O uso de biofertilizantes reduz e chega até a eliminar a necessidade de herbicidas.
Essa forma de agricultura já tem resultados agronômicos e econômicos bem dimensionados. Hoje, o uso das farinhas de rochas é um fenômeno mundial, mas muito pouco difundido no Brasil. Na China, houve ampliação de 30% da produção de grãos nos últimos anos somente usando farinhas de rocha nas peretização de sementes, com forte conteúdo de lantanídios. “E nós, no Rio Grande do Sul, temos rochas ricas em diversificação de minerais com a mesma qualidade dos chineses e que poderiam estar sendo usadas no desenvolvimento da agricultura”, aponta o coordenador do Núcleo de Ecologia e Agriculturas da Guayí, Nélson Diehl.
Recorde de produção
O Centro Agroecológico Vale do Rio Uruguai, ligado à agroindústria da Cooperativa de Agricultura Familiar Ecológica (Cooperaf), exportadora de cachaça da região de Criciumal, alcançou a produção de 196 toneladas por hectare no plantio de cana-de-açúcar da variedade IAC, através da utilização da tecnologia de Biomineralização. O recorde foi conquistado sem uso de adubo químico ou agrotóxico, o que possibilitou um teor de grau Brix próximo a 22, valorizando ainda mais o valor nutricional da cana. O índice de produtividade representa o dobro da média dos canaviais paulistas, que oscila entre 80 e 100 t/ha.
O engenheiro agrônomo Roberto Machado, informa que os agricultores adotaram o sistema biomineralizado Biobacter, que consiste no uso combinado da farinha de rocha Geobacter, do biofertilizante Lactobacter e no manejo de solo através do cultivo, entre as linhas, de quatro tipos de plantas leguminosas: Crotalária Júncia e Spectabilis, batata-doce, feijão-de-porco e abóbora. A aplicação dos biofertilizantes substitui a aplicação de uréia e a das farinhas de rocha eleva o potencial do solo, potencializando seus nutrientes.
“Estes agricultores aprenderam a questionar o universo da nutrição não mais sobre uma visão limitada em torno do nitrogênio, fósforo, potássio e outros poucos elementos químicos”, dimensiona Diehl. A Biomineralização trabalha com todos os elementos da tabela periódica que são encontrados nas rochas em estado natural e no seu diálogo com as plantas.
A biomineralização é uma tecnologia simples, pois é produzida a partir de elementos fáceis de encontrar. É comum o uso de farinha de rocha com fermentações, a base de bactérias lacteis usadas no iogurte e no queijo. Colocadas em contato com as farinhas de rocha, as batcérias proporcionam vários tipos de nutrientes que permitem maior rendimento nas plantas e recuperam a saúde do solo, afirma Carvalho.
"O que a gente persegue com a biomineralização é que a planta volte a ter todos os nutrientes necessários às condições que ela necessita, ou seja, que ela volte a ter a vitalidade inicial. É importante lembrar que o espinafre comercializado no supermercado, produto da agricultura química, tem até zero equivalente de ferro, quando comparado ao espinafre antigo, aquele cultivado em solos bons, que tinham acima de 1.500 em equivalente em ferro. Com a biomineralização, a gente volta a ter teores de ferro. A planta, tendo acesso a todos os nutrientes, volta a ter aquele sabor e aquela textura original, ou seja, a planta dura mais na geladeira, e a pessoa que consome passa a ter mais saúde. A gente procura, com a biomineralização, restabelecer a saúde do solo, da planta e do ser humano", esclarece.
Parreiras sadias
Há também o caso da família Slongo, que há mais de 100 anos produzem uva e fabricam vinho na região de Erechim. Há oito anos decidiram fazer sua agricultura sem veneno. E duas dificuldades imediatamente surgiram: produção irregular e baixa evolução da qualidade dos vinhos e sucos. Havia fraqueza de nutrientes minerais no solo.
Com o uso da tecnologia da biomineralização, em um ano a produção já aumentou em 40%, o custo de produção foi reduzido em 50% e também houve um acréscimo de 50% no brix da uva, possibilitando aos produtos da família Slongo ganhos diferenciais no aroma, perfurme e estabilidade de seus vinhos. A qualidade do parreiral também foi perfeita, já que em outros lugares houve ataques de fungo, e nesta videira não houve de nenhum tipo.
Dignidade ao agricultor
“Outro trabalho foi nas comunidades quilombolas, realizado em todo o Estado. Em algumas áreas em que os agricultores não conseguiam mais colher, conseguimos produtividade superiores a dos últimos anos. Houve a recuperação dos solos e a retomada das colheitas que há muito tempo não havia", diz Carvalho.
O desafio das rochas é que elas não podem ser usadas de uma forma mecânica na agricultura, com regras pré-fabricadas. Pelo contrário, ela deve vir de visões curiosas, de encantamento com os solos e da integração dos técnicos com os agricultores, com crescimento de ambos através da inovação de saberes. “O resultado disso é um produto que melhora a vida do consumidor e do agricultor, por ser mais saudável. Se está levando isso ao agricultor não como instrumento de poder de um grupo empresarial, econômico ou ideológico, mas, sim, por uma forma de apoderamento do trabalhador rural para usar as farinhas de rochas com sabedoria e com desenvolvimento de tecnologias”, esclarece o coordenador da Guayí.
Maiores informações e contatos:
Jaime Carvalho – Técnico agrícola da Biobacter (53) 9953.9923
Nélson Diehl – coordenador da Guayí (51) 9927.8904
Indicações de entrevista:
Prof. Sebastião Pinheiro – Núcleo de Economia Alternativa da UFRGS (3316.3075 ou 3316.3030)
José C.A.Ferreira – Rockall, de Mato Grosso (www.rockall.com.br)
Com Agência Chasque de NotíciasA
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