O silêncio do sequestrador de bebês

No período de ditadura militar na Argentina, filhos e filhas de presos políticos desaparecidos eram raptados por militares e entregues a outras famílias, muitas de outros militares que sabiam muito bem o que estavam fazendo. Presente e futuro eliminados para os comunistas. Pela ordem. Pela família. Faziam isso pelo bem da economia. Foram quase 500 bebês.

Um desses assassinos da máquina militar da guerra argentina está morto desde anteontem, 25 de fevereiro. Dizem que se matou. Mas isso não interessa.

O que interessa é que o tal tenente coronel Paul Alberto Navone iria depor em Tribunal Federal horas depois de seu "suicídio", sobre o caso do rapto e deslocamento de Raquel Negro dos estados de Rosario a Paraná, onde entre fevereiro y março de 1978 deu a luz a gêmeos, além de outros casos que seria, certamente, muito bem interrogado pelos promotores - como a participação no assassinato de Horacio Mendizábal, integrante da condução Montoneros, que havia regressado ao país em 79, na segunda etapa da chamada Contraofensiva, operacão que foi infiltrada pela Inteligencia do 601, Batalhão que o desgraça foi capitão.

Página 12 traz uma reportagem completa, com dados precisos da ficha suja de Navone, reconstrução das suas últimas horas, imagens da arma e da carta deixada por ele, inocentando a qualquer outra pessoa pela sua decisão de desaparecer da face da Terra e os detalhes periciais das lesões feitos pela bala. Também da suspeita do pacto de silêncio entre militares, em vigor na Argentina, com ações de extermínio ocorridas repetidas vezes nos últimos cinco anos. Na reportagem de apoio, a repercussão negativa dos organismos de direitos humanos, pela falta total de informações para encontrar respostas de quem se apoderou dos filhos dos outros - os documentos foram levados pelos sacanas ao sairem das Forças Armadas. Mais uma vez, o nó na garganta, pela falta de Justiça.

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