As Olimpíadas em Gori

A cidade de Gori, na Georgia [região do Cáucaso], foi saqueada e bombardeada pelos russos nos últimos dias. Mesmo com acordos frágeis de cessar fogo por parte das autoridades georgianas, Putin mantem ataques aéreos em alvos civis, com bombardeios indiscriminados. Em Moscou, autoridades russas negaram a acusação e alegaram não haver motivo para ocupar uma cidade vazia [mas por quê diabos ela estaria vazia se não fosse por ter sido bombardeada?].
Tomar a cidade significaria dividir o país ao meio - impedindo Tbilisi de se comunicar com diversas cidades em todo o oeste do país. Gori também é considerada estratégica porque, se for ocupada pelas tropas russas, o governo georgiano pode perder sua via de saída ao mar [da Ag. Estado].

Guerra Fria Americana e a Grande Rússia de Putin.

"Foi a Rússia quem precipitou uma guerra contra a Geórgia ao encorajar os rebeldes ossétios do sul a aumentar a pressão sobre Tbilisi e fazer exigências que nenhum líder da Geórgia poderia aceitar. Se Saakashvili não tivesse caído na armadilha de Putin desta vez, algum outro pretexto teria detonado o conflito [as tropas Georgianas atacaram e depois deixaram as cidades de Gori e Abkházia.
Diplomatas na Europa e em Washington acreditam que Saakashvili cometeu um erro ao mandar soldados para a Ossétia do Sul na semana passada. Talvez. Mas seu erro verdadeiramente monumental foi o de ser presidente de uma nação pequena, em sua maioria democrática e insistentemente pró-Ocidente na fronteira da Rússia de Putin.

Os historiadores analisarão o 8 de agosto de 2008 como um ponto de inflexão tão importante quanto o 9 de novembro de 1989, quando caiu o Muro de Berlim. O ataque russo contra o território soberano da Geórgia marcou o retorno oficial da história e nos termos de uma competição entre superpotências digna do século 19, com o pacote completo que inclui nacionalismos virulentos, batalhas por recursos, disputas por esferas de influência e território, e até mesmo - apesar de chocante para nossa sensibilidade do século 21 - o uso do poderio militar para concretizar objetivos geopolíticos" [Robert Kagan, pesquisador sênior do Carnegie Endowment for International Peace, no O Estado de São Paulo de 13/08].

O que essa senhora, com sua casa ao fundo destruída por míssil russo, tem com isso? 100 mil refugiados se espalham pelo Cáucaso. Um baderna de maníacos étnicos.
Mais um círculo de giz caucasiano.

[charges - Latuff / capa O círculo de giz caucasiano, Berlolt Brecht, ed. Cosac & Naify]