Era o Zé
Policiais davam instruções precisas para uma dupla de garis. A ordem era limpar rapidamente a calçada, destacada por um cordão de isolamento colorido e bem esticado. A limpeza era o arremate do trabalho. Quem chegou primeiro já havia levado a informação maior, e de história concreta sobrava apenas um boné encardido, no canto de uma pilastra.
-“Morreu de frio”, disse o gari que varria a poeira dolorida do chão. Disse para si mesmo, já que o amontoado de pessoas que passava ignorava o fato e também o gari.
-“Foi um morador de rua que faleceu?”, perguntei.
-“É”, respondeu o policial constrangido. A expressão da face não dizia se o constrangimento era por atrapalhar o trânsito dos pedestres, ou por achar que a culpa também era sua.
Do outro lado da rua, um homem com sua sacola de latas nas costas olhava a esquina vazia. Invisível, disse para o vento: “Era o Zé”.
Isso aconteceu hoje dia 19/08/2008, às 09:20 da manhã. O Zé morreu embaixo da marquise do Banco do Brasil, na frente do pomposo prédio da prefeitura de Porto Alegre.
Ninguém viu.
(por Thais Fernandes)
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