11.1.08

Alexandre com a alma de Pati

O jornalismo deve ser feito na rua, indo ao encontro das pessoas. E no universo de pessoas da rua, celebro o encontro entre esses três "marginais":

A prática da DERIVA não é apenas a apropriação do espaço urbano. É, em grande parte, a apropriação de histórias. O showrnalismo local (Porto Alegre) é de uma pobreza espantosa. O verdadeiro JORNALISTA é um fascinado pelos marginais, pelos os que estão à margem. Uma DERIVA é sempre uma história. Ao JORNALISTA só interessa a alma das pessoas. O nome dele é Alexandre Corrêa da Conceição. O nome dela é Patrícia. Alexandre e Patrícia estão com dezenove anos. Alexandre descobriu que era Patrícia com nove anos. Não gostava dos briquedos de menino. Na escola ficou maluco (a) pelo colega Tiago de doze anos. Todos os dias fazia um agrado para o Tiago, levando e repartindo a merenda. Um dia ele convenceu Tiago a brincar de casinha, de papai-e-mamãe, nos fundos da escola. A diretora chegou quando já rolava a brincadeira.

Alexandre não esquece que ensinou ao Tiago a fazer o que ele queria. Ri muito quando lembra que os dois eram cabaços. Alexandre passou três meses dando para o Tiago. Descobriu que era Patrícia. Seus quatro irmãos expulsaram Alexandre (para eles) de casa. Tiago hoje é um homem casado. A mãe continua morando na Vila Bom Jesus. Trabalha como auxiliar de cozinha. O pai já morreu e ele o viu muito poucas vezes.

Desde os nove, anos Patrícia está vivendo nas calçadas. Durante o dia ganha umas moedas nas proximidades de um supermercado do bairro Bom Fim. Na noite Patrícia se transforma em Pati. Por 30 reais faz ”completo”. Por dez faz o cara gozar só chupando. Nunca “comeu” ninguém embora já tenha tido propostas. Faz questão de dizer que o negócio dela é dar. Mas que, na atualidade, a concorrência nas ruas é grande e que ninguém fatura legal. Para Pati “fazer programa” é uma questão de sobrevivência, de arrumar uns trocados. Sempre que pode faz questão de dizer que gosta de dar por absoluto prazer. Já esteve por três meses no “Cadeião”, no Presídio Central. Preso por preconceito, segundo ela. Já consumiu todo tipo de droga. Agora está limpa. E só transa de camisinha. Pati só fica um pouco triste quando perguntada sobre seu futuro. Não tem nenhum estudo. Não sabe por quanto tempo ainda vai viver nas calçadas e fazendo programa. Ela acha que não tem nada a esperar do futuro. Alexandre também não.

"Roubamos" a reportagem do blog Ponto de Vista.

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