30.10.07

MENINOS DA REPÚBLICA, o jornalismo na veia de Marcelo Min

Sobre as fotos
O ensaio fotográfico Meninos da República é parte de um trabalho de documentação do centro de São Paulo desenvolvido pelo fotógrafo Marcelo Min. Realizadas nos últimos dois anos, as imagens que compõem esta seleção retratam o cotidiano das dezenas de crianças e adolescentes que habitam as ruas ao redor do edifício Esther. Nas últimas semanas [texto publicado em 07/10/2007], a maioria deles desapareceu da região. Segundo o relato recente de um dos meninos, um por um foram detidos e atualmente cumprem pena de privação de liberdade em diferentes unidades da Febem na capital paulista.


Texto da jornalista LUCIANA BENATTI, especial para o Jornalirismo.



Sozinho, estirado na calçada da rua 7 de Abril, o meni
no que dorme à luz do dia, alheio ao que acontece em volta, é a imagem-símbolo da infância perdida nas ruas do centro de São Paulo. Como ele, dezenas de crianças de diversas idades sobrevivem amontoadas na região da Praça da República. Sem documentos, sem dignidade, sem direitos, contam com seus cobertores imundos como abrigo e as marquises dos prédios como proteção.


Em frente à praça, o edifício Esther, marco da moderna
arquitetura paulistana, é um dos prédios que, por ainda não terem sido completamente cercados com grades, emprestam suas marquises a esses pequenos cidadãos invisíveis. Encravado no quadrilátero formado pela avenida Ipiranga e as ruas 7 de Abril, Gabus Mendes e Basílio da Gama, esse ícone da arquitetura, que mantém ainda certa dignidade apesar da decadência, é testemunha silenciosa do cotidiano desses meninos e meninas, para quem a vida se resume a uma sucessão de dias e noites embalados pelo torpor de cola e tíner, sendo sistematicamente obrigados a cometer delitos para sobreviver.

Para essas crianças, não há brincadeira sem perigo. Diversão é risco: pendurar-se na rabeira de um ônibus ou nadar na enxurrada desafiando a força das águas. Invisíveis para a maioria, têm o convívio na cidade restrito aos meninos do próprio grupo. Aos demais cidadãos, dirigem uma única frase: “Tio, me arruma um trocado?”. Como interlocutores de verdade, contam ocasionalmente com os educadores de rua, que chegam trazendo livros e a disposição de lhes contar histórias. E, quem sabe, ouvi-los. Muitas vezes, a conversa é com a polícia. O resultado, uma temporada na Febem – ou Fundação Casa, como queiram.

Desacordado na porta de uma agência bancária, na mesma rua 7 de Abril, um dos meninos traz a imagem de Chaplin estampada na camiseta, na altura do peito. Como observou o poeta Nei Duclós (www.outubro.blogspot.com), ali, junto à criança desamparada, “Chaplin está no lugar onde sempre esteve: na exclusão, encolhido diante da brutalidade”. E segue adiante, apontando um caminho: “Pronto para despertar para o humor e a esperança, quando houver não apenas espectadores, mas protagonistas da mudança”.

[O ensaio mais completo, você confere abaixo].





Fotos: Marcelo Min
Música: aiceman

Baixe a música

Letra:

Noite escura se finda brisa fria com cola aqueço o meu corpo nú
Estou com medo, mas já é rotina seu eu não morre amanhã será um novo dia.

Hei bom dia começo a correria e me acordo com um balde de água fria
Atordoado com o colchão mão comerciante ecoa no refrão

Filhos das trevas sumam daqui repelem a freguesia envergonham a cidade
E a caridade que fiquem pros covardes não vou sustentar vagabundo ou malandragem

Vichi vou subir lá na Sé que talarica não vou amontoa garanto a minha a fita
Os gigante ao redor as pessoa a trabalhar a brisa da cola demoro di passa

Eu vou bote quem sabe um café uma coca cola seria melhor que uma esmola
Um trocado um real Tio cola cum nois prometo nunca mais se ouvir a minha voz

O que eu faço por comida que merda um dia eu saio desse vida megera

Ou então meto os cano vou pra cima do sistema
Casa de correção pra mim não é problema

Pior do que isso apanhar e de funcionário ou morrer na cela enforcado

A saída aqui na rua e vender crack ou fugi dos policia quando rouba táxi

Não, não por aqui meu senhor turista tem que ser bem tratado moro
Imagino o Eslogan lá na Europa o Brasil terra com pivete jogando bola

Mais é assim que funciona o esquema pouco dinheiro resolvia o meu problema
Carinho amor palavras abstratas constroem presídios e montam barricadas

Achava que a vida seria mais bela assim quando chovia brincava na guerra

Não sei quando começou mas eu nasci nela aborto mal sucedido o estado interna

E fácil como dor de cabeça mas o remédio não cura enxaqueca
Sejam bem vindos ao mundo suburbano meninos da república vagueiam pelos cantos

Refrão 3x

Quero viver
Quando crescer quero ter
Uma casinha pra mim
E um brinquedo assim

Seria como eu andar
E nunca me machucar
Minha infância eu perdi
Eu só queria fugir
Break

Crescer quero ter
Uma casinha pra mim
E nunca me machucar
Eu só queria fugir

Onde está o estatuto da criança
Onde está o dinheiro que se ganha
Onde está o valor do ser humano
Onde está a vergonha da sociedade
Que no quarto de despejo jogam
Os filhos dessa mãe gentil

Pátria amargurada
E que o sangue não seja das almas inocentes

Caldeirões incandescentes
Caiam sobre nossas mentes
Pois não ficaremos para sementes

Postado por Aice às Domingo, Outubro 21, 2007

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