15.7.08

Pampa sofre de tragédias ambientais

Compartilhamos chamado de alerta do professor Paulo Brack [Ingá e UFRGS]:

Preparem-se para mais uma tragédia ambiental no RS. 1.132 hectares de florestas. Mais de um milhão e quinhentas mil árvores = um pouco mais do que a arborização de Porto Alegre, e mais de 2 mil hectares de campos nativos poderão desaparecer com a construção de duas imensas barragens de irrigação no coração do Pampa. Uma fauna raríssima e ameaçada e as florestas mais contínuas (Matas em Galeria) da região.

No dia 14 de julho pude ter a tristeza de conhecer os EIA-RIMAs de Taquarembó e Jaguari, que encontram-se na biblioteca da SEMA. Hoje (15) é o último dia para dar algum parecer externo de Taquarembó e o penúltimo dia para Jaguari.

Serão quase 4 mil hectares de áreas inundadas, sendo pelo menos 27% compostas por florestas. Um absurdo pois serão utilizadas para a irrigação de amplas áreas de arroz e também silvicultura. O abastecimento de água para as cidades não depende de tamanha extensão.

Na área prevista para o alagamento das barragens, a quantidade de árvores que deverão ser suprimidas e que ocorrem nas duas áreas diretamente afetadas, em conjunto, segundo dados do próprio EIA RIMA da Beck de Souza, é de 1.579.106 (um milhãoquinhentos e setenta e nove mil e cento e seis) árvores nativas, a grande maioria de espécies que não existem em nenhum viveiro do Estado.

Vamos a cada caso:

1) Barragem do arroio Jaguari. Município de Rosário do Sul. Com área prevista para o alagamento de 2752 hectares para irrigar 17 mil hectares de orizicultura, fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas, ranicultura. Da imensa área a ser alagada temos o impacto de perda de 766 hectares de florestas nativas, com densidades de mais de 1577 árvores (Com diâmetro de mais de 5 cm) por hectare. Seriam 1.207.982 árvores suprimidas segundo o EIA RIMA da Beck de Souza. Seriam 141.675 m3 de madeira/lenha. Seriam perdidos também 1.986 ha de campos, lavoura, pastagens, entre outros usos.

2) Barragem do arroio Taquarembó. Município de Dom Pedrito. Abastecimento e irrigação de 35 mil hectares de orizicultura, fruticultura, silvicultura, pastagens cultivadas, ranicultura. A área a ser alagada corresponde ao curso de água do arroio Taquarembó. Em uma extensão de 1.350 hectares, sendo perdidos 366 (trezentos e sessenta e seis) hectares de florestas nativas, o que corresponde, segundo dados do EIA-RIMA da Beck de Souza, a 371.124 árvores a serem
suprimidas. O volume de madeira/lenha a ser retirado ou perdido é de 103.884 m3.
Também seriam perdidos 984 hectares de campos, banhados, lavouras e outros usos.
Os estudos de impacto não fazem referência as espécies da flora ameaçada de extinção pelo Decreto Estadual 42.099/2002. Os levantamentos são insuficientes, com amostragens escassas (80 árvores), não tendo amostragens quantitativas de campo. Nestas áreas existem espécies de fauna de mamíferos ameaçados como gato maracajá (Leopardus wiedii), veado catingueiro (Mazama gouazoupira), gato-do-mato (Oncifelis geofroy), entre outros.Considerando o dano/benefício, fica evidente que a barragem de Jaguari inundará uma área muito maior (2752 hectares) e irrigará uma área muito menor (17 mil hectares).

As duas barragens, com cerca de 30 m de altura têm o objetivo de irrigar monoculturas em grandes extensões, inclusive monoculturas arbóreas (eucaliptos) já tem recursos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), em um montante de 130 milhões de reais.

Na leitura do EIA-RIMA da Beck de Souza, um dos objetivos das barragens também é utilização de água como elemento de preservação ambiental, evitando a migração de espécies da fauna em busca de água e estimulando a procriação pela oferta da mesma. (?)

Perder-se-iam mais de 1.100 hectares de matas de galeria para a preservação ambiental?

O dia 15 será o último dia para a FEPAM receber qualquer consideração externa quanto ao EIA-RIMA de Taquarembó e dia 16 para a barragem de Jaguari.

A sociedade gaúcha não pode continuar passiva vendo mais este absurdo passar sem nenhuma atitude. Nossa passividade é um elemento chave para criar um "ambiente de negócios", onde os investidores não teriam mais entraves e poderiam ampliar as atividades convencionalmente impactantes, com muitos recursos governamentais.

A biodiversidade do Pampa, geradora de riquezas para outros países, realmente, sucumbe aqui onde as monoculturas favorecidas com recursos públicos raspam os últimos remanescentes de campos, matas nativas e banhados que não recebem a mínima proteção do Estado.

Mais um crime ambiental para o Estado que presta desserviços ambientais, com recursos do PAC e dos recursos hídricos, por meio de portaria recente da SEMA que repassou recursos da área ambiental para a construção destas gigantescas barragens.

P. Brack

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