10.7.08

BASTIDORES De NOTÍCIA

JORNALISMO engajado é trabalho de equipe, em coletivo, na marra - necessariamente.

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Não foi nada fácil colocar no ar do telejornal da TV Brasil essa reportagem sobre a denúncia feita, no dia 24 de junho, pelo MST e outros movimentos sociais gaúchos das ações inconstitucionais orquestradas em conjunto pelo Ministério Público Estadual e Brigada Militar. Abaixo ela está na íntegra, mais no pé da postagem há outra versão, editada pela TV Brasil.



A direção de jornalismo da TV havia sinalizado interesse na pauta, com um olhar dos movimentos sociais, um giro de notícia. Isso só foi possível num trabalho de equipe entre JORNALISTAS por espírito de compartilhamento das informações. Foi preciso trabalhar em conjunto, principalmente com os cinegrafistas do Coletivo Martin Fierro, autores das principais imagens que compõe a reportagem, militantes de câmera em punho, que muito têm contribuído nas denúncias de repressão ao movimentos no Rio Grande do Sul. Incluiam imagens inéditas um dia após o despejo irresponsável da Justiça contra dois acampamentos de Coqueiros do Sul, no 17 último, fato da deflagração explícita do MPE em dissolução do Movimento. Nem mesmo o único jornalista que acompanhou a operação policial no dia, do jornal[eco] Zero Hora, foi capaz de entrevistar um acampado. Não lhe interessou. Quis falar só da polícia. Reparem.

Outra equipe da rede de compartilhamento foi a de JORNALISTAS do telejornal responsável pelo quadro Outro OLhar - participação cidadã. Pela repercussão dos fatos denunciados, eles reservaram horário de satélite da TVE-RS para transferirmos a reportagem no dia 24 mesmo, em tempo de ir ao ar naquela noite. Seria jornalismo cidadão entre a pasteurização da notícia nos enlatados telejornais noturnos das outras emissoras.

Perdemos na fogueira
Quase em cima da hora de começar o Repórter Brasil, recebemos resposta de Brasília de que a reportagem havia caído. Era São João, 24 de junho, festa. E a cobertura convencional já previa diversas entradas ao vivo das cidades mais movimentadas do Nordeste. Não havia tempo para Outro Olhar. Foi pra gaveta. E a reportagem perdia ali a sua vitalidade de notícia do dia, fresquinha, furando todos os outros telejornais que nada deram sobre a situação. [na mesma noite, porém, sites importantes como Terra Magazine, de Bob Fernandes, e o portal UOL já repercutiam as notícias daqui de Porto Alegre, basicamente entrevistando promotores do MP, ou seja, o olhar de dentro dos movimentos seria furo na TV e nos outros veículos de jornalismo]. Nada feito.

Pois bem
Da então terça-feira 24 até sexta-feira 27, dia em que a reportagem foi finalmente ao ar, a equipe do quadro Outro OLhar fez um trabalho incansável pela inclusão no telejornal. Reuniões com a direção, esclarecimentos da importância do assunto e das imagens, as negociações para redução do tempo. Do corte inicial de 5 minutos, a reportagem foi para menos de 2'. Mais da metade de fora.
Mas a equipe do Outro Olhar não arredou pé. Para as editoras do jornal aprovarem a entrada, foi acertado o envio, pela TVE-RS, de trechos da entrevista "levanta-bola" concedida, na quinta-feira 26, por um dos promotores que mirabolaram as ações de dissolução do MST. É que "jornalismo sempre tem de ter os dois lados" [regrinha de Faculdade, praxe, e nossa reportagem, realmente, não escutava o MP, apenas se baseava em suas ações, que diziam tudo do MP - mas vá lá, promotor para falar].

Foi ao ar reportagem com 2'16, contando com a cabeça do apresentador. E deram quase o mesmo tempo às falas do promotor, que ficou para fechar a notícia, como última palavra. Praxe também. Afinal, um especialista, o "lado" que respondia às denúncias que os denunciados seus apresentavam naquele dia [nessas duas versões da reportagem que disponibilizamos não há o trecho do promotor, não é birra, não tivemos acesso a essas imagens, só isso].

Assista o que foi ao ar na sexta-feira.



Resultado
Coletivo Catarse, mesmo assim, aceitou pela entrada no noticiário nas condições solicitadas pela direção de jornalismo. Poucos emissoras fora da praça aqui do Sul repercutiram as imagens de violência da Brigada Militar contra os movimentos sociais. Nenhum telejornal apresentou entrevistas com acampados atingidos pelas ações de despejo em Coqueiros do Sul, não havia a visão clara dos movimentos, principalmente no "olhar produtivo das imagens". Isso só foi possível pela ação coletiva de JORNALISTAS descomprometidos. A existência da TV Brasil é fundamental para a população brasileira e ao jornalismo brasileiro, como transmissão de informações pela realização de ações livres de reportagem, de jornalismo não da esfera pública de Estado, mas de causas públicas de cidadania e movimentações sociais. A equipe de jornalistas do Coletivo Catarse acredita nisso, tenta por isso.

O JORNALISMO precisa de COOPERAÇÃO. De COOPERATIVAS ações livres. Espectadores agradecem.

1 Comentários:

Blogger Claudinha disse...

Gurizada, parabéns!
Lendo o contexto da reportagem que foi ao ar, lembrei de leitura de entrevista do Umberto Eco, há trocentos anos atrás, na qual ele tratava desses padrões: se ouvir todos os lados, a última palavra será daquela que se deseja reforçar/apoiar.
Mais: esperemos outras reportagens da TV BR para verificarmos, se "todos" os lados da notícia serão apresentados. Tenho minhas dúvidas. Tal circunstância me fez lembrar de outra coisa, o ditado "para os amigos tudo; para os inmigos, a lei". Tá fiquei paranóca... risos...
Vai pro Dialógico!
Claudia.

10.7.08

 

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